terça-feira, 31 de janeiro de 2012

HUMILDADE: UM PRINCÍPIO ESQUECIDO

HUMILDADE: UM PRINCÍPIO ESQUECIDO

E disse aos convidados uma parábola, reparando como escolhiam os primeiros assentos, dizendo-lhes: Quando por alguém fores convidado às bodas, não te assentes no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu; e, vindo o que te convidou a ti e a ele, te diga: Dá o lugar a este; e então, com vergonha, tenhas de tomar o derradeiro lugar. Mas, quando fores convidado, vai, e assenta-te no derradeiro lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante dos que estiverem contigo à mesa. Porquanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado. (Lc. 14:7-11)

Além de uma grande lição de etiqueta, temos nestas palavras do Mestre um ensino profundo e salvador. A verdade era uma grande prova do amor de Cristo para aqueles que O cercavam, por mais que doesse e causasse desconforto social Ele não a omitia. Sua verdade tinha a intenção de libertar a todos do pecado. Imagine Jesus nesse jantar a contemplar tanta vaidade, arrogância e prepotência, tanto vazio. Seu coração devia estar apertado ao ver o pecado sendo praticado como se fosse a melhor coisa do mundo (inversão de valores). Ele tinha que agir, Ele tinha que falar, Ele tinha que brilhar e mostrar a verdade, pois Ele é a verdade.

Para Deus não há diferenciação de pecados, por mais que para a sociedade uns pareçam ser mais escabrosos que outros e por mais que de fato uns tenham conseqüências terrenas piores que outros, pecado é pecado, salvo a exceção da blasfêmia contra Espírito Santo (Mateus 12:31). Mesmo que não seja praticado no corpo, somente na alma, é pecado e conduz a morte. A grande lição daquela ocasião traria o remédio necessário para se exterminar do coração um pecado que distorce a consciência equilibrada de nosso verdadeiro valor: o orgulho. Talvez o primeiro dos pecados, criado pelo inventor do pecado, o arcanjo cujo nome era Lúcifer. Daí, quem sabe, está o porquê de tamanha indignação divina contra tal pecado especificamente. Como fala Ezequiel 21:26 – “Assim diz o Senhor DEUS: Tira o diadema, e remove a coroa; esta não será a mesma; exalta ao humilde, e humilha ao soberbo” –  é desejo do Senhor que nos despojemos de toda glória humana e confiemos Nele, pois dará a recompensa devida ao humilde e ao soberbo. E em todo caso é bom que estejamos entre os humildes.
                  
                   Jesus era a humildade em carne. O Filho Unigênito de Deus – Deus Filho – que se diminuiu para estar entre os pecadores. Abdicar da glória de reinar ao lado do Pai para tornar-se homem e morrer num madeiro foi o maior exemplo de humildade que poderíamos ter tido. Ele sem dúvida era a pessoa certa para dar aquela lição. No entanto, é bom conhecer um pouco mais sobre o que significa humildade para se entender a dimensão do exemplo de Jesus
A palavra “humildade” vem do Latim húmus que significa "filhos da terra". Desta palavra origina-se também “homem, humano e humanidade”. Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras pessoas, nem mostrar ser superior a elas, por entenderem não serem melhores que elas em essência, mas sim semelhantes. Além de húmus, provavelmente, a palavra “humildade” também esteja relacionada ao Grego homo, que tem o sentido de uniformidade e integridade, ou seja, todos os homens são semelhantes e unidos por algumas características em comum. Logo, humildade é a consciência de que não somos melhores que ninguém, mas de que também não somos piores que ninguém, assim admitimos não só nossa pequenez, mas também nossa dignidade diante das pessoas e do mundo, ou seja, todos são iguais em valor humano e diante de Deus. Assim fica claro que humildade não tem nada haver com pobreza, miséria e vida de humilhação.

Ser humilde jamais será empecilho para nos sentirmos honrados e dignos. Pelo contrário, quando somos humildes entendemos nosso lugar e quem somos, passamos a não depender mais das demais pessoas para nos sentirmos valorizados, porque sabemos do nosso valor em Deus, independentemente de nossas qualidade pessoais ou do nosso valor para os outros. Com isso talvez pareça que neste ponto Cristo esteja errado ao falar de “humilhação” no versículo de nº 11 do texto acima, mas Ele fala “aquele que a si mesmo se humilhar” e não “aquele que for humilhado”, ou “aquele que aceitar ser humilhado”, portanto, a ninguém é dado o direito de nos humilhar, a não ser a nós mesmos e não no sentido de nos expor a situações constrangedoras, mas sim no sentido de disciplinar nosso próprio “eu”, não lhe concedendo seus desejos vaidosos e egoístas. Vale ressaltar que devemos recusar sermos humilhados pelos outros com toda mansidão e sabedoria, sem humilhar ninguém, senão nos tornaremos como os nossos opressores e perseguidores.
A Bíblia e o cristianismo tratam da humildade como um princípio extremamente fundamental para o bom viver da fé. A começar por Gênesis 3:19 – No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás – onde observamos claramente o sentido da etmologia húmus “filhos da terra” e também em Eclesiastes 3:20 – Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó. Não só estes textos, mas muitos outros demonstram a igualdade essencial de todos os homens: todos nascem, todos vivem e todos haverão de morrer. Não há homem que escape disso, mesmo que alguns venham nascer em melhor condição que outros, ou venham viver incomparavelmente melhor que os outros será, principalmente, no momento da morte que a igualdade e a limitação humana se demonstrarão invariáveis. Quem poderá escolher até quando viver? Quem poderá escolher de que forma morrer? A morte faz com que o mais valente, o mais rico, o mais genial dos homens lembre-se que é um “filho da terra” e que para ela regressará. Contudo, podemos entender melhor porque Cristo valorizava a atitude humilde, pois a sua vida era o grande exemplo.
                Deus (Filho) não se fez homem em Cristo para aprender alguma coisa ou para conhecer melhor a nossa triste realidade humana, acreditar nisso é limitar a Sua onisciência. Ele conhecia todas as coisas, não era preciso que Ele aprendesse a ser humano, pois Ele criou todos os seres humanos e mesmo assim se esvaziou, se diminuiu escolhendo ter que aprender e em carne para que se tornasse o mais perfeito sacrifício para remissão de todos os pecados de uma só vez (Hebreus ). A Sua vida e a Sua vinda foram uma lição para nós e não para Ele. Tínhamos que vê-Lo caminhar, amar, sorrir, curar, libertar, brincar, etc. Ele veio não porque precisava, mas porque nós precisávamos. Sua humildade nos humilhou e pode quebrar toda a soberba de nossas vidas.  Sua morte o fez um “filho da terra” como nós. Ele não só se humilhou, isso não bastava, Ele foi humilhado, seu exemplo superou até o que Ele requer de nós. Ele não requer que aceitemos humilhação imposta por outros, mas Ele próprio aceitou essa humilhação para mostrar que “si humilhar” não é nada perto do que Ele fez por amor a nós – foi humilhado.
                Humildade não era coisa somente para a igreja primitiva que sofria enorme perseguição, era pobre e não tinha grande influência no mundo da época. Deus não matou esse princípio, não o exterminou. Humildade é característica dos verdadeiros adoradores, dos verdadeiros cristãos, dos imitadores de Cristo, daqueles que si humilham para alcançar misericórdia, perdão e graça; daqueles que vão além, como Cristo, e se preciso até sofrem e suportam humilhação pela causa do Mestre, mas que também serão exautados por Deus, senão nesta vida, mas concerteza na vindoura.
Hoje, como no jantar relatado pelo texto de Lucas, é comum vermos pessoas e até “homens de Deus” abdicarem da humildade considerando-a característica de “derrotados”, parece que o correto é mostrar a todos o quanto Deus esta nos fazendo vitoriosos e prósperos. Nem se quer encontra-se material evangélico falando de humildade, para escrever este texto numa busca virtual pude encontrar sites espíritas, católicos e alguns que acho que posso considerar “místicos”, menos evangélicos. Não é possível encontrar textos, artigos, livros de pastores, teólogos, apóstolos, pregadores sobre tal tema. Não se encontra “palavras proféticas sazonais” tipo: 2012 – O Ano da Humildade. Ninguém quer saber deste princípio, alguns preferem esquecer, outros distorcer, para ambos cabe lembrar de algo realmente profético: Provérbios 16:18 “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.”
Pr. Diego Belo

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